sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Posso Perguntar? Posso? - com Nuno Nepomuceno

Sobre o autor:

Nuno Nepomuceno nasceu em 1978, nas Caldas da Rainha. É licenciado em Matemática pela Universidade do Algarve e reside na região Oeste. No ano letivo de 2000/ 2001 recebeu o Prémio do Senado da Universidade do Algarve para melhor média final de curso e a Bolsa de Estudo por Mérito. Em 2003 ingressou na empresa NAV E.P.E. - a prestadora de serviços de tráfego aéreo em Portugal. Até 2008 trabalhou na Torre de Controlo de Ponta Delgada, e atualmente, na do Aeroporto de Lisboa. O Espião Português é o seu primeiro romance, com o qual ganhou a 1ª edição do Prémio Literário Book.it para jovens autores. 

Entrevista:

Quando é que começou a escrever?

Há cerca de quinze anos. Fiz uma primeira tentativa de escrever um romance de espionagem quando ainda estava na universidade, mas, devido à minha imaturidade, acabei por não o conseguir. Cerca de quatro anos depois, fiz um novo ensaio, já bastante próximo daquilo que mais tarde se veio a transformar n’O Espião Português. Acabei por ficar bloqueado com cerca de um quarto do livro escrito e parei durante mais um ano e meio, sensivelmente. Foi então que resolvi fazer algumas alterações e reescrever tudo. Comecei por mudar o tempo verbal e criar um caderno onde fui estruturando e anotando o que ia definindo. Tratou-se de um processo algo longo, com vários avanços e retrocessos, mas que compensou.

Sendo licenciado em Matemática, sempre se dedicou à leitura e à escrita? O que o fez começar a escrever?


Eu sempre gostei de escrever. Quando era mais novo, as redacções eram a minha parte favorita dos testes de Português. Acho que é a criação, o que mais me interessa. O facto de ser licenciado em Matemática é algo que não vejo como negativo. As pessoas têm tendência a pensar que um Matemático escreve mal, ou que um escritor é necessariamente alguém que fugiu à Matemática. Não acredito nisso. É possível ter uma formação científica e sermos capazes de escrever. Aliás, todos temos como obrigação tratar bem a nossa língua. 

Qual é o primeiro livro que se recorda de ler?

Um dos livros da colecção As Novas Aventuras dos Cinco. Lembro-me que li vários outros quando era mais pequeno, mas não consigo recordar-me dos títulos e, de facto, estes são os que mais presentes tenho na memória. Foi uma edição que alternava texto com banda desenhada. Recebi-a gradualmente pelo Natal e aniversários, o que me deixava muito ansioso. Deveria ter uns dez anos quando comecei. Era capaz de ler um numa manhã.

Qual é o próximo livro na sua lista de leitura?

O Assalto, do Daniel Silva. Estou à espera que saia.

Quais são os seus livros preferidos? E autores?

O meu livro preferido é Os Pilares da Terra, do Ken Follett, embora também tenha gostado bastante de Os Três Mosqueteiros, do Alexandre Dumas, apesar de os ter lido em idades bastante distintas.

Em termos de autores, tenho algumas referências, se bem que por questões diferentes. Ken Follett, devido à forma como constrói os romances. São sempre muito bem estruturados e a pesquisa é extraordinária. Já o Daniel Silva, é porque se insere num género que me diz muito. Sou um grande fã da série do Gabriel Allon. É muito actual e as personagens continuam a evoluir. Nada parece fortuito, apesar da colecção ser já bastante longa. Em termos nacionais, há autores que admiro pela forma hábil como têm gerido a carreira. É o caso do José Rodrigues dos Santos e do Luís Miguel Rocha.

Qual a melhor companhia para um livro? Um café, a praia, o quentinho do sofá?

Normalmente, a praia. Escolho sempre um livro grande para ler na altura em que tiro alguns dias de férias. Gosto de estar deitado na areia e ir ouvindo o mar enquanto me distraio. Fora disto, leio em qualquer outro lado, desde que não haja muito barulho. 

Que autores influenciaram a sua escrita?

Vários autores. Tenho aprendido à medida que vou lendo. Já citei alguns nomes numa das questões anteriores, embora existam mais. Naturalmente, vejo o meu processo de escrita como algo muito pessoal, e tento ser original, embora existam sempre algumas influências. Acho que é possível ir buscar bons exemplos aqui e ali, como personagens bem desenvolvidas, enredos bem trabalhados, construir narrativas com princípio, meio e fim, e depois dar-lhes a nossa própria voz. É essencialmente isso que procuro fazer. Que os meus leitores reconheçam um livro meu apenas por o lerem.

O que o inspirou ao escrever O Espião Português?

É algo difícil de explicar. A espionagem é o meu género literário, televisivo e cinematográfico preferido. Cresci a ver séries como a Missão Impossível e os filmes do James Bond. É um imaginário que consegue ser muito fascinante e entusiasmante. Todos nós sonhamos em salvar o mundo de uma conspiração qualquer. E quando decidi que queria tentar escrever um livro, acabou por ser a opção mais natural. Aliás, na altura, foi mesmo a única. Eu acho que não poderia ter começado de outra forma. Queria criar uma história que fosse simultaneamente viciante e sensível. Queria que quem a lesse, não fosse capaz de a largar quer pelo suspense criado, como também pela dimensão emocional das personagens. Daí a forma como o André é caracterizado. Ele não é apenas um excelente agente. Ele é, sobretudo, um ser humano excepcional. Na minha opinião, é exactamente isso que torna a leitura de O Espião Português tão compulsiva. 

Como tem sido a reacção dos leitores ao seu livro?

Felizmente, tem sido muito positiva. Ainda não consigo ser consensual, e há sempre uma ou outra pessoa que não gosta, o que é muito natural, já que eu próprio também não me sinto atraído por tudo aquilo que vou lendo. Mas estou bastante satisfeito, surpreendido mesmo, pelo retorno que tenho tido. Vou recebendo ocasionalmente emails de alguns leitores a darem-me conta da sua opinião, o que é muito bom. Destacam sobretudo o ritmo frenético da história e o facto de o protagonista ser muito diferente dos espiões convencionais. Houve até alguém que me disse algo do género “é a primeira vez que um espião não é um mulherengo”. 

Gostava de ver O Espião Português adaptado ao cinema/televisão?

Sim, confesso. Aliás, quando estou a planear os meus capítulos, muitas vezes penso em termos de imagens. O grafismo de algumas sequências, bem como a grandiosidade dos cenários que escolhi para o livro, vêm exactamente desse desejo e desse modo de conceptualizar a narrativa. A minha memória é muito visual. Reconheço mais facilmente um rosto do que um nome e imagino toda a trilogia como um filme em três partes ou uma série repartida por iguais temporadas. Entre uma coisa e outra, acho que preferiria televisão. A ideia de continuidade atrai-me imenso e, se fosse possível, gostaria também de estar ligado à equipa criativa. Talvez coordenar os argumentistas ou escrever mesmo eu alguns dos episódios. Imagino-me a fazê-lo com o primeiro de cada ano e o último, se bem que seja algo que reconheço ser difícil de vir a acontecer, já que seria uma produção cara e, como tal, talvez mais viável no estrangeiro. 

Já alguma vez se deparou com alguém a ler O Espião Português por exemplo num transporte público ou outro local? Como se sentiu?

Não, isso nunca me aconteceu. E acho que se alguma vez ocorrer, ficarei muito envergonhado. Sou um pouco tímido.

Quando escreve vai mostrando a alguém ou só no final pede opinião? E quem é a primeira pessoa a quem mostra o seu trabalho?

Nunca mostro o meu trabalho a ninguém, pelo menos não na íntegra. Só disse à minha família e amigos que tinha escrito O Espião Português quando soube que tinha ganho o prémio e que seria impossível escondê-lo. A minha escrita é algo muito pessoal. Agora, já vou partilhando alguma coisa. Quanto mais não seja, peço uma opinião sobre uma ideia ou uma localização que esteja a pensar em escolher, mas na totalidade, só mostro depois de estar concluído e publicado. Não é uma questão de desconfiança. Eu apenas sou muito reservado e vivo o meu imaginário com extremo fervor. Sofro imenso com as derrotas das minhas personagens.

Considera que se aposta nos autores portugueses ou que as editoras tem deixado escapar ou não dão a devida atenção e visibilidade a bons livros escritos por pessoas menos conhecidas?

É uma questão complicada. Nós temos uma relação difícil com a nossa cultura. Temos tendência a menosprezá-la em relação ao que vem de fora. Considero que há um excesso de autores estrangeiros publicados em Portugal, sobretudo se quando comparados com os nacionais. Há muitos livros bons que ficam na gaveta por falta de oportunidades e não qualidade. É preciso criar formas de novos escritores conseguirem mostrar o seu trabalho de modo digno. E para tal, é necessário haver vontade. Cabe ao público mostrar às editoras que gosta do trabalho dos autores portugueses. Se elas reconhecerem potencial em nós, certamente que apostarão.

O que diria a alguém que se estiver a iniciar como autor? 

Eu ainda tenho pouca experiência para dar conselhos. Não sou um autor consagrado, mas acho que quem quer escrever um livro, deve fazê-lo num género e estilo em que se sinta confortável. Ou seja, não deve procurar imitar alguém ou seguir uma moda. Por outro lado, tem de ter calma e ser capaz de controlar a ansiedade. Um livro exige muito trabalho. Antes de o apresentarmos aos outros, é bom que percamos algum tempo a revê-lo e a deixá-lo amadurecer. Por vezes, o que nos parece uma boa ideia agora, daqui a umas semanas já não é bem assim. E é necessário permitirmo-nos esse mesmo tempo.

Quais são os seus projectos para o futuro?

Felizmente, tenho bastantes para os próximos meses. Antes do final deste ano, irei publicar um conto de Natal num blogue que, por ainda não ter sido anunciado, não posso dizer qual é. Outro conto será incluído desta feita em livro, numa colectânea que deverá sair em Janeiro. É algo bastante diferente do que tenho vindo a fazer e estou simultaneamente curioso e ansioso para ver qual vai ser a reacção das pessoas. Aliás, antes do convite, não me imaginava neste registo, mas estou muito contente por ter sido feito e por o ter aceite.

Depois, a série iniciada com O Espião Português irá continuar. Assinei recentemente um contrato com uma nova editora (Topbooks), tendo assegurado a conclusão da trilogia. Para já, o que posso avançar, é que o segundo volume sairá durante o primeiro trimestre de 2015 e que, contrariamente ao que aconteceu com o primeiro livro, terá uma distribuição global. Encontro-me a trabalhar no terceiro e último tomo, que espero conseguir apresentar em 2016.


Agradecemos ao Nuno por se ter disponibilizado para esta, assim como por nos ter cedido um exemplar do seu livro! Desejamos-lhe as maiores felicidades e sucesso!

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