segunda-feira, 21 de julho de 2014

Opinião - "Rua Direita", Anderson Borges Costa

Sinopse

Edição: 2013
Páginas: 160
ISBN: 978-989-51-0797-1
Goodreads: mais informação aqui.
"Charles Chaplin? Arnaldo Antunes? Rita Lee? Noel Rosa? Glauber Rocha? Tarsila do Amaral? Racionais MCs? Chico Buarque? Quentin Tarantino? Sons, quadros, letras e imagens invadem a mente de um homem que perambula durante um dia, talvez, algumas horas, talvez uma vida inteira, pela Rua Direita, no centro de São Paulo. Ele tem fome e deseja se alimentar. Durante sua busca por comida, o protagonista vê desfilar pela rua, de forma desordenada como a arquitetura da cidade de São Paulo, várias manifestações e aspectos da cultura brasileira, como o carnaval, o futebol e as injustiças sociais. A fome do personagem principal é uma referência à Antropofagia, de Oswald de Andrade. A narrativa está amarrada por uma cachoeira de citações e referências literárias, musicais, cinematográficas, artísticas e históricas, construindo uma espécie de teia sobre a qual se tece o enredo. Quem pautará o próximo passo no calçadão?"



Opinião

Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer a gentileza do autor, Anderson Borges Costa, que nos cedeu um exemplar de “Rua Direita”.

Aproveito ainda para reiterar a minha crença de que os Prefácios deviam dar definitivamente lugar a Posfácios, pois fui novamente surpreendida por revelações acerca da história ainda antes de a ler e que gostava de ter descoberto por mim mesma. Para além disso, penso que a leitura do texto de Carlos Felipe Moisés é de mais fácil compreensão após a leitura da obra.

Fechados estes reparos (manias minhas!), passo à verdadeira opinião sobre a obra.

1905 – Desfile de Carnaval na Rua Direita. 
Foto: Gustavo Machado da Costa/AE
Para falar de “Rua Direita”, devo dividir a obra em três partes, que marcaram também o meu ritmo de leitura.

Numa primeira fase, somos apresentados ao protagonista, um sem-abrigo que tem fome. Esta simples descrição é tão completa como insuficiente, pois ninguém pode ser reduzido a meia dúzia de palavras, nem um mero sujeito lírico como este. No entanto, é esta fome que o guia através do labirinto em que se transforma a Rua Direita, e que cria um constante aperto no ventre do próprio leitor. Não consegui deixar de me sentir angustiada à medida que seguia as desventuras desta pessoa, que encerra em si um mundo de cultura e personalidade, tão grandes quanto a sua fome.

Edifício Guinle
Passamos então a uma segunda parte da narrativa, em que a consciência do protagonista começa a perder-se para um cenário de alucinações. A passagem é progressiva, mas notória. Foi nesta fase que, confesso, a leitura começou a tornar-se mais difícil para mim – os mesmos jogos de palavras que me cativaram ao início começam a tornar-se mais cerrados e cansativos. O protagonista torna-se espectador, e a narrativa parece não avançar.


Na terceira parte há um retorno à lucidez relativa, e o protagonista ganha uma voz. Voltei a sentir a curiosidade inicial sobre o que o destino guardava para o nosso “herói”, se alguma vez conseguiria saciar a sua fome, até ao final do livro.

Em conclusão, para mim a obra ganhava se fosse reduzida a parte intermédia, e não acho que isso levasse à perda de significado. Um dos pontos que mais me agradou foi o facto de o narrador nos conseguir fazer sofrer realmente pelo protagonista, e pela sua condição, percebida pelos outros, de “não-humano”.





P.S. Fiquem com a bela memória de infância do protagonista, para vos transportar também para a calçada da Rua Direita.


2 comentários :

  1. Olá,

    Bem parece uma leitura interessante, até porque ficamos com uma prespetiva diferente de um sem abrigo, mas que não deve ser de muito facil leitura.

    Bjs e boas leituras

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    1. Sim, a história do protagonista é muito boa; apesar das partes de escrita mais difícil, valeu a pena :)

      Boas viagens! :)
      Bárbara

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