sexta-feira, 6 de junho de 2014

Posso Perguntar? Posso? - com Carla M. Soares


Sobre o autor:


"Carla M. Soares nasceu em 1971. Formou-se em Linguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras de Lisboa, e tornou-se professora. Tem um Mestrado em Estudos Americanos, em Literatura Gótica e Film Studies. É doutoranda no Instituto de História da Arte, na Faculdade onde se formou. É, antes de mais, filha, mãe, mulher, amiga. Leitora e escritora compulsiva. Sempre."


Entrevista


Quando é que começou a escrever?

Quando era miúda escrevia umas coisas, uns contos mauzinhos, uns poemas que felizmente se perderam para sempre! Deixei-me disso quando cresci e só comecei o meu primeiro romance, uma história de fantasia que provavelmente nunca verá a luz do sol, já depois dos 30, a meio do meu Mestrado, para provar a mim própria que era capaz de levá-lo até ao fim. Fui e nunca mais parei. Vendo bem as coisas, escrevo há 10 anos e devo ter quase esse número de romances completos. Desses, tenho dois publicados, um “no prelo” (isto é, ando a pensar no que será melhor para ele) e dois de fantasia que talvez um dia venha a publicar. Ou não.

Onde é que costuma escrever?

De caras, no café. No café é onde gosto mais de escrever e onde é mais produtivo – o ruído faz uma espécie de “bolha” à minha volta e produzo mais e melhor. É o que faço aos fins de semana, logo pela manhã, ou sempre que não tenho que ir trabalhar. O meu ideal era poder passar horas num café acolhedor, com montes de café ou chá, e escrever, escrever... mas como trabalho, na verdade escrevo onde e quando posso. Não preciso de silêncio nem de isolamento, basta que não haja ninguém a falar comigo.

Qual é o primeiro livro que se recorda de ler?

O primeiro? Ena, que pergunta... Não tenho memória para tanto! Provavelmente um da Anita. Tenho uma foto com uns dois ou três anos e um livro debaixo do braço que parece mesmo ser da série. Conta como leitura, com essa idade? Bom, ler “ler”, li-os mais tarde, lá pelos cinco...Depois devorei as outras coisas que as crianças liam, Os Cinco, por exemplo, e uma série americana que adorava, chamada Patrícia. Aos dez, mais coisa menos coisa, lia tudo, TUDO, o que me viesse parar às mãos, incluindo os livros do Eça encadernados a vermelho e dourado que havia na estante e os livros velhos da minha mãe, com a capa a cair. Felizmente houve sempre muito para ler lá por casa...

Qual é o próximo livro na sua lista de leitura?

De certeza Pretérito Perfeito, da Raquel Serejo Martins, e provavelmente Para Onde Vão os Guarda Chuvas, do Afonso Cruz. Mas em geral não planeio as leituras. Tenho uma boa pilha de livros por ler, olho para ela e vejo o que me apetece.

Quais são os seus livros preferidos? E os seus autores preferidos?

Ora aqui está a pergunta que me deixa em branco, seja com literatura ou sobremesas, e me dá vontade de me socorrer dos clássicos, Eça, Shakespeare ou Whitman, que fazem parte da minha formação e adoro... Se me perguntarem de que autores ou livros mais gostei no ano passado, aí posso responder de caras A Boneca de Kokoshka, de Afonso Cruz, A Mulher-Casa, de Tânia Ganho, A Tábua da Flandres, de Arturo Perez Reverte e A Menina que Roubava Livros, que é sobejamente conhecido. Este ano, Manhattan Transfer, de John dos Passos... não sei porque é que levei tanto tempo para me decidir a lê-lo...

Qual a melhor companhia para um livro?

Um café, praia, o quentinho do sofá?Todas essas e as outras também. Mas há uma resposta. No café, computador e escrita, mas pode ser um livro. Praia, só mesmo com leitura, de contrário aborreço-me de morte. E no sofá tenho sempre livro, mesmo quando estou a fazer outra coisa ao mesmo tempo, como a ver algum filme.

Que autores influenciaram a sua escrita?

Não tenho resposta para isso. Todos? Acho que tudo o que lemos vai, de certa forma, moldando a nossa escrita, vai ensinando. No entanto, se não acabarmos por encontrar uma voz própria, não chegamos a ser escritores. Somos cópias. Tentativas.

Gostava de ver alguma das suas obras adaptada ao cinema/televisão?

Gostava, claro, embora naturalmente tivesse algum receio da abordagem. Se acho que pode acontecer... não, não acho.

Acredita que é preciso ter vivido/experienciado certos sentimentos para conseguir transmiti-los?

Não, não acredito nada nisso. Era preciso que um escritor de horror ou policial cometesse um crime ou o sofresse para descrever os sentimentos inerentes às cenas mais duras de forma credível, por vezes do ponto de vista do criminoso? É um exemplo básico e que não serve a minha escrita, que não é nenhuma dessas coisas, mas creio que é claro. Nós interiorizamos não só o que vivemos, mas também o que observamos. É preciso ter alguma sensibilidade, mas não temos que passar obrigatoriamente pela experiência. Empatia e imaginação têm aqui papeis essenciais.

Como foi o processo de pesquisa da componente histórica de “A Chama ao Vento”?

As pesquisas para estes romances de época, que são mais sobre as pessoas num certo momento histórico, do que sobre o momento em si, são sempre tortuosas. O que muitas vezes preciso de saber não são os factos históricos, que são de acesso relativamente fácil, são os detalhes sobre a vida quotidiana, o que se usava, o que se comia, onde se ia, como se viajava, que ruas e estradas existiam, que comportamentos eram mais ou menos aceitáveis. Nem sempre é fácil. Dou-lhe um exemplo: para um livro que ainda não saiu, que tem como título provisório O Cavalheiro Inglês, precisei de descobrir que navio se poderia apanhar de Portugal para Nova Iorque em Janeiro de 1893. No Alma Rebelde, quanto tempo levaria uma viagem de perto de Mafra a Pêro da Moça, na Guarda, de carruagem. No A Chama ao Vento, andei para a frente e para trás por causa da data de inauguração da Estrada Marginal para Cascais e uma série de outros detalhes. Recorro a livros e artigos, claro,mas a internet ajuda, porque trabalho e não sei se teria tempo para correr atrás da informação toda...

Já alguma vez se deparou com alguém a ler um livro escrito por si por exemplo num transporte público ou outro local? Como se sentiu?

Por acaso acho que não... Não sou assim famosa, eheheheh. E se for o Chama... num tablet, não tenho como saber! Mas tive outra experiência, que foi ter alunos junto à minha secretária no fim das aulas a pedir autógrafos para eles ou para as mães. E aplausos à porta da sala no dia de lançamento do primeiro livro – O Alma Rebelde. Foi tudo gratificante e embaraçoso ao mesmo tempo.

O que diria a alguém que se estiver a iniciar como autor?

Primeiro que trabalhe muito bem os livros. Que os dê a ler a quem seja totalmente honesto e lhes poupe um caminho difícil se o trabalho ainda não for bom. Segundo, que seja muito paciente e persistente. Ser publicado é muito difícil e não acaba aí. Há muito factores envolvidos que não têm a ver com a qualidade da escrita e que fazem com que ser publicado a segunda vez seja difícil também.

Quais são os seus projetos futuros?

Tenho um terceiro livro de época que pode ser o início de uma série de três ou quatro (ou não, depende da minha paciência, gosto pouco de voltar ao que já fiz) e está na Porto Editora, aguardando uma decisão minha e uma da editora, tenho dois livros de fantasia que precisam de revisão séria antes de pensar sobre eles, e estou a iniciar um romance para o qual tenho neste momento pouquíssimo tempo. Veremos o que acontece.


Gostaríamos de agradecer à Carla por nos ter concedido esta entrevista e ainda por nos ter disponibilizado o seu livro. A opinião sobre o mesmo será publicada em breve! Carla, desejamos-lhe as maiores felicidades e muita sorte para os seus projetos futuros!


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